Desobsessão - Parte 02: Compreendendo o trabalho e analisando as afirmações.
- Casa de Magia Recanto das Almas
- 19 de abr. de 2020
- 6 min de leitura
(Esse texto ficou enorme, peço desculpas por isso, mas achei melhor não dividi-lo pois creio que afetaria a compreensão.)
INTRODUÇÃO: Recentemente em um relato do Facebook, vi uma moça comentar que em uma desobsessão, o obsessor, um kiumba, arrebentou as guias de uma médium e as jogou no chão.
O que não faltou foi gente dizendo que "Casa que tem tronqueira firmada não entra Egum".
E que "o médium não estava bem firme".
(Continuação do texto 01)
Ok, agora que sabemos o que é um egum, vamos falar sobre como proceder com eles.
Já dissemos no primeiro post como a NOSSA CASA lida com eles. Agora quero falar sobre as duas afirmações no começo desse texto e porque eu discordo veementemente delas.
1ª Afirmação: "Casa que tem tronqueira firmada não entra Egum"
Pergunta: O que é a tronqueira?
Resposta: É o ponto de defesa do terreiro onde estão localizados os portais e
pontos de forças artificiais dos Exús. Ali ficam suas imagens, assentamentos, ferros firmezas e quartinhas. É pra lá que se converte toda energia hostil e negativa e também para onde são encaminhadas entidades negativadas. Qualquer kiumba que se manifestar pode ser encaminhado para a retirada na casa de Exú. (todo terreiro possui Tronqueira, é o único local obrigatório além do Gongá).
Partindo do conhecimento do que é Tronqueira, temos que estabelecer que ela por si só
não é a defesa total de uma Casa. Podemos fazer uma analogia com uma janela.
Ela é a GRADE onde animais maiores não conseguirão entrar. Mas não significa que pequenos bichos ou insetos não entrem.
No caso do terreiro a tronqueira é o primeiro ponto de força de quem entra. É o ponto de choque. quando bem firmada ela segura o que tem de pior. Mais pesado. Fica tudo retido lá.
Lembrando que não importa o tamanho físico o duplo etérico de um Terreiro normalmente é grande.
O que pode segurar alguns animais pequenos é a TELA. Ainda assim, por necessidade ou
outro motivo algum inseto pode passar dependendo da tela.
A isso podemos comparar a defesa do pátio ou do Cruzeiro que muitas casa tem. De qualquer forma ela vai até a porta do espaço de trabalho em si. (claro que existem terreiros que não tem essa tela começam na porta de entrada. O esquema de defesa é um pouco diferente nesses casos).
Ali vão ser orientados os sofredores, aqueles espíritos que não necessariamente são kiumbas e pode ser feita uma triagem.
Entramos então na Casa em si (tanto a nossa analógica quando no salão do terreiro).
Se a casa estiver limpa, bem arrumada, os moradores não forem sujos, não vão atrair muitos insetos né?
Da mesma forma um TERREIRO energeticamente limpa, um GONGÁ devidamente firmado, preparado, e uma CORRENTE MEDIÚNICA firme impedem que espíritos ruins que por algum motivo tenham chegado adentrar na casa façam algo ruim.
Entenderam como tudo influencia a segurança de uma casa?
Pergunta: Como um kiumba ou sofredor pode entrar na casa?
Resposta:
A) Ele pode ter sido permitido. Alguns espíritos necessitam ser orientados através do contato com um encarnado ou espirito superior em terra. Ou permitem para que sirva de aprendizado para a corrente.
B) Ele pode ter entrado através de alguma brecha na firmeza.
C) Ele pode ter entrado através de alguma brecha da pelos médiuns da corrente. A corrente não recebe esse nome a toa se um elo enfraquece, a corrente toda pode ceder.
Agora que sabemos que a Tronqueira não basta devemos também lembrar que:
1 - Uma casa de caridade não auxilia apenas encarnados. Seria muito fácil só atender
encarnados e os desencarnados que se lasquem. Sofredores podem receber o apoio necessário em casas kardecistas mas nem toda casa kardecista vai saber lidar com um "kiumbão".
2 - O terreiro é feito por seres humanos. E seres humanos são Falhos. A tronqueira pode
estar firme mas o Gongá pode estar faltando um elemento que naquele dia seria crucial mas alguém esqueceu. O mesmo vale para o Cruzeiro e para a própria Tronqueira. As vezes a corrente não está firme, porque dois médiuns quebraram um preceito importante. E trouxeram o Egum como consequência. É lei de merecimento ação e reação. Ou apenas os membros não estão bem. As vezes o dirigente não está bem. As vezes a assistência está podre de carregada. Repetindo: TUDO INFLUENCIA A SEGURANÇA DE UMA CORRENTE.
3 - O dirigente não nasce sabendo. Existem coisas que não se aprende na preparação de
dirigente. Tem casa que praticamente não faz desobsessão. Num caso desse a firmeza nesse tipo de trabalho vem do dia a dia de terreiro. Ele não foi "treinado pra isso". A entidade sabe. Ele não.
ENCERRAMOS A PRIMEIRA AFIRMAÇÃO.
2ª Afirmação: "O médium não estava bem firme".
Vocês já fizeram desobsessão? Sabem o que é ser um transporte? Não existe escola de
médium de transporte e cada Egum que chega é único. E eles tem uma força descomunal. Já vi um kiumba levantar um médium de 110 quilos nas costas.
O médium ele não é desenvolvido pra lidar com essa energia. Não existe um desenvolvimento mediúnico para receber kiumba. Para o médium se acostumar com a energia.
Temos que lembrar que a incorporação de kiumba é como se fosse a primeira vez do
médium. Não existe o alinhamento certinho do Chacra. Existe um " sequestro".
O treinamento do médium umbandista não é como no kardecismo. Que e aprende a "controlar" muitas vezes a mediunidade como se fosse um carro. É totalmente diferente.
Quanto as guias que foram arrebenta das. É sério? Óbvio que o kiumba quer se livrar
delas elas estão imantadas com a energia do guia. Dependendo da energia da guia ela pode "queimar" o kiumba. Não é só pra quebrar a força de um. Eu já vi kiumba pedir pra tirar porque estava doendo.
Agora só pra completar. Isso é kiumba. Não é irmãozinho sem luz. Não é irmãozinho ignorante. Não é sofredor. Não é pra ter peninha. Na esmagadora maioria das vezes está nessa condição por escolhas que fez.
Sofredor a gente não manda embora, a gente encaminha na oração.
Kiumba não.
Existe o kiumba medroso que vem com atitude mas quando nota que está em um
terreiro abaixa a bola e vai embora desiste de tudo sem problema. Você fala meia dúzia de coisas ele vê que "deu ruim" aceita e vai embora. Mas a grande maioria é abusado. Diz que é mais forte e se bobear peita entidade.
Kiumba não entende oração. Kiumba não entende linguagem de amor. Ele ali não ta
querendo ser evangelizado ou consolado. Ele quer perturbar, prejudicar, tocar fogo em tudo. Compaixão é pra quem faz por merecer. Merecimento também é lei.
Kiumba eu entende corrente, vela quebrada, pólvora queimada, e surra de folha.
Tratar kiumba assim não é ser mal, ou fugir a lei de Umbanda, ou fugir a caridade.
A linguagem que kiumba entende é a força. Você só ta se comunicando em uma linguagem que ele vai compreender.
E só pra finalizar existem vários tipos de espiritos que cabem no conceito de kiumba.
Sabemos que o mal é extremamente organizado, podemos estar falando de um kiumba pau mandado, de um egum de chefia de grupo negativo (normalmente os que trabalham de 7 em 7), ou de um mago negro.
Então antes de julgarmos um caso por um relato vamos pensar. Será que a corrente não
vacilou? Será que era a primeira vez do médium? Será que o kiumba não era tão "fraquinho?" Será que o médium que estava incorporado comandando a desobsessão não perdeu por um momento o alinhamento com a sua Entidade? Será que o Gongá/ Tronqueira/ Cruzeiro/ Corrente estava firme? Etc. Etc. Etc.
Vou encerrar com um causo de terreiro que eu acompanhei.
Na casa da minha Mãe de Santo nós fazíamos muitas desobsessões e em uma delas vimos um kiumba que se dizia Exú. (Kiumba se passa por entidade que é uma beleza não esqueçam). Exú Formiga. (bem comum aliás).
Nós retiramos esse Kiumba de uma pessoa a primeira vez. Pomos o kiumba pra correr.
Um ano depois estávamos fazendo uma desobsessão quando baixou um...Exú formiga. Já veio amarrado rosnando pra gente brabo porque tinha dado de cara com a gente de novo. Ok, dessa vez acorrentamos ele. Pronto. Ufa. Segunda vez com ele.
Uns 3 anos dessa vez em uma desobsessão chega um kiumba que estava perturbando uma moça. Dá de cara com a gente. O nome? Exú Formiga.
"Pô mas vocês de novo! Mas vocês são uma pedra no meu sapato hein! Povo chato! Precisa me amarrar nem nada não que essa daí não vale o trabalho. Já estou indo embora!"
Kiumba não é burro rs.
Nunca mais o vimos.
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